O homem a quem agradeço no Dia da Mulher


José Raposo Fotografia

No Dia Internacional da(s) Mulher(es), além de agradecer às feministas - que abriram caminho para que eu hoje tenha os direitos que tenho -, às mulheres extraordinárias que fizeram e fazem parte do meu mundo -  que foram estruturais para a mulher que hoje eu sou - , bem como às mulheres-eucalipto com que me cruzei - que serviram para ver, com clareza, o tipo de mulher que eu não queria ser - , quero também agradecer ao Hugo, o homem que me surpreende com flores quando lhe apetece e não quando uma data o impele a isso. O Hugo não me oferece apenas flores. O Hugo poliniza as nossas vidas. 

Quando nos conhecemos, o Hugo já tinha a casa dele -  que agora é o nosso lar - povoada com flores e plantas. Flores e plantas que trouxe da casa dos pais, quando estas perduraram após a morte do pai e da mãe. Algumas dessas plantas já existiam antes do próprio Hugo existir. E ele não quis deixá-las morrer; nelas persistiam os gestos de cuidado maternal. 

As plantas respiram. Há que lhes dar ar, sol e alimento. As relações devem respirar. Há que dar ar, sol e alimento aos dois elementos de uma relação. Nas nossas singularidades enquanto pessoas com diferenças biológicas e com personalidades distintas, nem  um é superior ao outro, nem um é inferior ao outro. 

O Hugo cuidou da mãe, quando ela adoeceu. O Hugo mudou-se para o Porto, durante um ano, para estar mais próximo da família, para, juntos, cuidarem da mãe. Eu, o meu pai e o meu irmão cuidámos da minha mãe, quando ela adoeceu. O Hugo cuida da casa, eu cuido da casa. Cuidamo-nos os dois, como quem sabe que as diferenças de género são um pormenor que nos complementa. Quando nos conhecemos, não precisávamos um do outro. Eu vivia bem sozinha, o Hugo vivia bem sozinho. Éramos autónomos. O Hugo sabia bem cuidar de si, eu também sabia cuidar bem de mim. O amor aconteceu-nos na descoberta do que morava dentro de um e do outro. 

Eu paguei o primeiro jantar que tivemos juntos. O Hugo cozinhou o primeiro jantar que tivemos em casa dele. Eu cozinho, mas Hugo cozinha melhor, tem mais gosto e criatividade. As sobremesas são mais o meu departamento.Tanto arrumo eu a cozinha como ele, tanto coloco eu a roupa a lavar como ele. Tanto faço eu a cama como ele. Eu passo roupa, o Hugo tem mais paciência para dobrar a roupa direitinha segundo o método Marie Kondo. O Hugo tem mais jeito para montar móveis, eu para pensar em detalhes de decoração (embora ele também seja atento a esses pormenores). 

Habituada a estar solteira, imaginei que pudesse ser desafiante a vida a dois. Mas não. Com o Hugo, foi natural. Foi natural porque o Hugo não via em mim uma muleta afectiva, nem uma empregada doméstica. Foi natural porque ele me respeita enquanto pessoa, enquanto mulher pensante e independente. E apoia-me na minha realização enquanto mulher, seja na esfera pessoal ou profissional. Valoriza a pessoa que sou. Dá-me ar, sol e alimento. Eu dou-lhe ar, sol e alimento. E juntos crescemos. Não somos plantas parasitas. A luz de um não provoca sombra no outro (é isso o feminismo, não é?).

Neste dia, tenho mesmo de estar grata ao Hugo por poder crescer com um homem ao meu lado que não tem medo do feminismo (é isso um casamento, não é?).

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