Círculo maternal


A maternidade jardina círculos nas arestas de um amor. Em torno das mães, desenham-se corolas e beija-flores, zumbidos de abelha, orvalhos e mel de rosmaninho. Em torno das mães, o beijo quente da vida que quer gerar vida e espanto. As mães transformam-se em girassóis que se voltam para o ventre aceso. Silenciosas, as raízes criam constelações no peito nocturno do mundo.

As mães arredondam os gestos, abraçam a esfera pulsátil. No pulso dos dias, um relógio em contagem crescente. Cada semana, uma matrioska dentro de outra matrioska, de outra matrioska, até o tempo ganhar a hora maior. Até o tempo parir a devolução da eternidade. 

Nas mães, o alimento liquidifica o peito, como duas nascentes instintivas. As ancas dançam uma coreografia primitiva. E, então, o (re)nascimento da humanidade em cada parto.

Grávidas, as mulheres constroem-se ninho e voo. Nelas nascem mãos que são asas e cerca, pés que são alicerces e vigias. As mães são peneiras onde repousa o pão que entregam ao mundo, numa dádiva velada. As mães desenham círculos e círculos em torno das crias. Abraços que se propagam como ecos do coração maternal.

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